sábado, março 24, 2007

A História do Queijo


A História do Queijo
ou
Será que ainda dá para se ter esperança?


Pois é...

Nosso “mundinho” está mesmo de pernas para o ar...

A inversão de valores é tal, que às vezes me sinto atordoada... Como é que conseguimos deixar as coisas chegarem nesse pé?

Eu fico me questionando se tudo o que está acontecendo é culpa apenas da minha geração ou se é resultado de um “efeito cascata” que veio se acumulando pelas gerações e séculos passados, estourando tudo agora, nesses últimos cinqüenta anos...

Sim, porque já no meu tempo de menina aconteciam coisas que eu não entendia, mas elas foram ficando cada vez piores, cada vez mais escabrosas.

O que antes, no meu mundo, era rotina (caráter, honestidade, solidariedade) agora virou exceção! E o que era exceção (violência, safadeza, drogas, juventude desmotivada, balas perdidas) agora é a rotina de nossa vida!...

O povo vive sob constante tensão, com medo de tudo e já percebo um clima de depressão, de conformismo coletivo que NÃO PODE acontecer, e continuar, nem pensar!

Nós precisamos sacudir esse marasmo, esse medo, essa indiferença doente que faz com que nos fechemos cada vez mais em nossas casas cercadas de grades por todos os lados e fazer alguma coisa! Nós temos que tentar modificar isso, e não deixar que tudo a nossa volta continue se deteriorando até que sejamos “engolidos” por todo esse horror.

Cobrar, e cobrar muito do governo e fazer também a nossa parte.

Se cada um de nós fizer alguma coisa, aos poucos conseguiremos melhorar esse quadro tão tenebroso em que vivemos...

É por isso que conto agora aqui um caso que deveria ser rotina e, no entanto, é exceção.

Nas vésperas do Natal do ano passado, meu marido e eu fomos à feira livre, comprar uns ingredientes, frutas e verduras frescas para meus quitutes de Natal.

Paramos na barraca dos queijos e ele comprou uma peça de queijo prato de, mais ou menos, uns três quilos. Saímos dali, fizemos outras compras e, numa outra barraca, a de secos e molhados (será que ainda hoje se chama assim para a que vende castanhas, nozes, azeitonas, ameixas e outros mais?), que estava apinhada de fregueses. Descansamos nossas sacolas no chão e ficamos aguardando nossa vez.

O movimento era grande, especialmente devido à época. Em dado momento, a pessoa que estava à nossa frente – uma senhora – nos pediu licença para sair, pois já fora atendida. Demos espaço para ela, que juntou do chão suas sacolas, nos desejou Feliz Natal e saiu.

O que ela não percebeu é que, junto com as sacolas dela, levara a nossa, onde estava o queijo...

Meu marido só percebeu a falta quando nós também pedimos licença para sair e não encontrou mais a sacola. Ficou muito frustrado e, enquanto voltávamos para o carro, ele ia passando nas barracas de queijo, perguntando se alguém não devolvera ali uma peça de queijo prato assim, assim. Vã esperança...

Eu fiquei com pena do desconsolo dele — imagine... Ele ainda é do tempo em que as exceções eram rotina... — e ia lhe dizendo que era inútil tentar.

A feira estava repleta, gente demais passando. Eu acreditava mesmo que a senhora que pegou o queijo nem percebera que o fizera e, por certo, só veria o engano em casa.

Desconsolado, meu marido quis voltar onde comprara o queijo, para comprar outro igual, e lá fomos nós. Ele contou o caso para a vendedora que ficou penalizada e ele também lhe perguntou se ninguém viera devolver um queijo ali. Vã esperança. Compramos outro e voltamos para casa.

Eu ainda ria, dizendo que a pessoa ia ficar feliz com o presente inesperado de Natal, porque, por mais sem intenção que tivesse feito, não teria como devolver e nem descobrir o verdadeiro dono.

Depois do Natal fomos para a praia, onde ficamos até o final de janeiro. No último sábado do mês, meu marido voltou à feira e tornou à barraca do queijo. Estava pagando a compra quando a vendedora, que o atendera um mês antes, lhe perguntou se não tinha sido ele quem lhe perguntara a respeito de um queijo perdido.

Meu marido confirmou e ela lhe disse: “Pois naquele dia vieram perguntar aqui e eu disse que sim, que uma pessoa andava procurando, e que tinha sim sido vendido aqui mesmo. A pessoa devolveu o queijo. Olhe, vou lhe dar outro igual e da mesma marca!!!”

Meu marido pegou o queijo tão surpreso que nem acreditava e mal conseguia falar. Chegou em casa animado, contando o caso. Eu fiquei boquiaberta, encantada, emocionada, perplexa, maravilhada!

Será que ainda dá para se ter esperança?

Walkyria Gaertner Boz
23/03/2007

Nenhum comentário: